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PSDB chega aos 30 e passa de adversário a celeiro ruralista

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25/06/2018 – 10h27

Fortalecimento do agronegócio, porém, não garante apoio do setor à legenda

De adversário dos ruralistas na Constituinte, o PSDB passou a celeiro do agronegócio 30 anos depois de sua fundação. A mudança de perfil, no entanto, não tem sido suficiente para garantir apoio do eleitorado do campo, que hoje flerta com a candidatura de Jair Bolsonaro (PSL). Essa dificuldade é uma das facetas da crise por que passa o PSDB, que completa nesta segunda-feira (25) 30 anos.

O partido nasceu em 25 de junho de 1988 defendendo, entre outros pontos, a reforma agrária. O manifesto de fundação urgia por uma redistribuição de terra que combinasse tributação progressiva com desapropriação.

Naquele período, o então líder do PMDB no Senado e fundador do PSDB, Mario Covas, travou duro embate com o hoje senador Ronaldo Caiado (DEM-GO), à época o principal articulador da UDR (União Democrática Ruralista).

O antagonismo tratou de colocar tucanos e ruralistas em lados opostos da disputa política. A radiografia da bancada do PSDB na Câmara hoje mostra uma transformação nesse aspecto. Quase 40% dos deputados (18 em 49) têm atuação simpática aos interesses do agronegócio.

O líder, Nilson Leitão, é um dos mais ativos membros da bancada ruralista no Congresso. Ele é autor, entre outros projetos, de um que tipifica um crime específico para invasão de propriedade. Se aprovado, inibirá ações do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).

Ele também apresentou, no bojo da reforma trabalhista, no ano passado, uma proposta que permitiria que trabalhadores rurais recebessem “remuneração de qualquer espécie”, o que daria margem para a troca de salário por moradia ou alimentação. Atacado, recuou.

O deputado federal ambientalista Ricardo Tripoli (SP) disse que o PSDB se afastou de seus princípios fundantes. “Realmente, não é uma postura que vai ao encontro daquilo que o PSDB sempre almejou”, disse.

“Não que a gente seja contra o agronegócio. O setor hoje tem uma postura razoável. Não vemos surtos de radicalismo ruralista na bancada, mas, que há uma divisão nítida, há.” Para ele, a chama antidemocrática da UDR hoje é residual no Congresso. “Eles eram um pouco Bolsonaro, eram da porrada. Os ruralistas hoje são menos radicais, com uma ou outra exceção.”

Ainda que sejam numericamente minoritários, os radicais ganharam protagonismo no debate público, forçando uma guinada do pré-candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin. Com dificuldade de avançar nas pesquisas de intenção de voto, o tucano passou a defender a liberação do porte de arma no campo, em resposta a Bolsonaro.

CORRUPÇÃO

Não é o único desafio de Alckmin e do PSDB. Fundado como dissidência do clientelismo e fisiologismo do PMDB, o partido agora luta para se desvencilhar de acusações ainda mais graves como corrupção.

Promessa de poder do PSDB, o senador mineiro Aécio Neves se tornou réu depois de ser delatado pelo empresário Joesley Batista, da JBS. O ex-governador de Minas Eduardo Azeredo foi preso no processo do mensalão tucano. O próprio Alckmin responde a suspeitas de caixa dois em campanhas, que ele nega.

A eleição deste ano coloca o PSDB em uma encruzilhada. Ou consegue retomar o apogeu alcançado na era FHC (1995-2002) ou corre o risco de se reduzir a uma legenda de estatura média.

A direção geográfica na qual o PSDB se expandiu acaba por reforçar um estigma presente desde a sua fundação. Naquela época, adversários o rotulavam como “partido de país rico”, cuja viabilidade se restringiria ao Centro-Sul do país.

Gestado em São Paulo por políticos como Fernando Henrique Cardoso, José Serra e Covas, o PSDB manteve as raízes no estado. Um quarto da bancada ainda é paulista como em 1991, ano em que tomaram posse os deputados eleitos pelo PSDB pela primeira vez. O Sudeste, no total, respondia por metade dos assentos tucanos. Hoje responde por 41%.

O recuo foi compensado especialmente pelo Centro-Oeste, que elegeu um deputado em 1991 (Sigmaringa Seixas, do DF, sem perfil ruralista) e hoje tem 6, ou 12% da bancada. Já o Nordeste teve a representação reduzida de 32% para 25% de 1991 para 2018.

Para Nilson Leitão, essa mudança no perfil do PSDB reflete o desenvolvimento econômico do país. “Muita gente se elegeu no antagonismo ao PT, por não concordar com uma legislação mais engessada”, disse. “Não dá para ser conservador em regiões em que falta tudo. No Norte e Nordeste, precisa ser um pouco mais ousado, abrir novas fronteiras. Isso contamina politicamente.”

O senador paraibano Cássio Cunha Lima (PSDB) pondera que ser forte na metade de baixo do país não faz do PSDB fraco na porção de cima. “Fernando Henrique Cardoso sempre obteve vitórias na região e o partido tem bons quadros em todos os estados”, observou. O ex-presidente tucano conseguiu quase 60% dos votos válidos nordestinos em sua primeira vitória, em 1994, e pouco menos na reeleição (50%). Seu governo (1995-2002) desapropriou mais imóveis rurais que o do petista Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010). (Thais Bilenky/FSP)

Franco Montoro, FHC e Mário Covas apresentando o tucano como símbolo do PSDB

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