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Polícia aos ‘cacos’ é o teste de fogo da intervenção no Rio

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18/02/2018 – 10h20

Novo comando vai esbarrar em estrutura sucateada e salários atrasados

A intervenção federal na segurança pública do Rio, decretada na sexta-feira (16) pelo presidente Michel Temer, poderá esbarrar no sucateamento da estrutura das forças policiais, que tem se agravado nos últimos anos. Os 45 mil homens da PM e outros 10 mil da Polícia Civil serão o principal instrumento de trabalho do general do Exército Walter Souza Braga Netto, indicado como interventor federal no Estado. Ele é que definirá o plano de segurança que será colocado em prática pelas polícias locais.

Os detalhes da intervenção ainda não estão fechados, mas sabe-se que os militares trabalharão em conjunto com as polícias, já que, pela Constituição, as Forças Armadas não têm poder das polícias. Polícias que vivem rotina de deficit de pessoal e escassez de armamentos e coletes à prova de balas. Faltam investimentos em investigação, formação de novos policiais e estrutura de apoio médico e psicológico para os agentes.

Hoje, os policiais estão com o 13º salário do ano passado em atraso. Nem todas as bonificações de trabalho fora da escala foram pagas até agora. A falta de estrutura atinge em cheio o moral da tropa policial e torna os agentes vítimas da criminalidade. Somente neste ano, 16 PMs foram assassinados no Estado foram 134 em 2017.

A inédita intervenção, a primeira na segurança de um Estado após a Constituição de 1988, é mais um capítulo na grave crise na segurança do Rio, o que provocou, em setembro do ano passado, o envio de tropas do Exército para ajudar no patrulhamento e atuar em operações especiais.

Isso não impediu que ações de criminosos fechassem as três principais vias expressas da cidade no início deste mês. A diferença é que, agora, um homem do Exército estará no comando de toda a segurança do Estado. Poderá intervir na nomeação de delegados e chefes de batalhão, na distribuição de verbas das corporações e na organização de patrulhas de rua da cidade.

MODELO

O general Braga Netto terá sob o seu comando uma equipe acostumada a um modelo de combate à criminalidade e ao tráfico de drogas perseguido no país desde os anos 1990, com constantes confrontos em áreas populosas das cidades e que se mostrou ineficiente, segundo especialistas ouvidos pelo jornal Folha de S. Paulo.

Isabel Figueiredo, integrante do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, questiona se o general terá capacidade de lidar com questões presentes na segurança pública e inexistentes nas Forças. O conteúdo do decreto é vago. Fica tudo na mão do interventor, do planejamento que ele fará. Quem ao lado dele entende de segurança pública, de presídios? Não está claro, afirma Figueiredo.

A atual relação entre as forças estaduais e federais no Rio não tem sido amistosa. Houve resistência inicial à atual presença dos militares, por exemplo. Nos bastidores, a cúpula da segurança preferiria que, em vez de tropas, o governo federal mandasse recursos para equipar as polícias e colocar salários em dia.

Um ex-comandante do Bope e coronel da ativa da PM prevê que, inicialmente, a tropa irá acatar as ordens do interventor federal. No entanto, caso não haja menção à solução dos problemas estruturais, a tropa passaria a uma espécie de resistência passiva ao novo comando.

O que ele [general] vai encontrar, além dos problemas estruturais de sempre, é uma polícia desmoralizada, sem salário, sem pagamentos por trabalho extra e sem metas, diz a antropóloga Alba Zaluar, que pesquisa a segurança pública há mais de 30 anos.

O modelo de combate ao tráfico é também criticado pelo coronel Íbis Pereira, ex-comandante da PM do Rio.
Segundo ele, a política de segurança não está voltada para as grandes apreensões de drogas, mas para o varejo, que acontece dentro das favelas, onde há cada vez mais armas. Se essa realidade não mudar, disse ele, a intervenção não terá eficácia.

SEM CONSENSO

Entre policiais da ativa e analistas do setor não há consenso sobre a eficácia da medida. O presidente da Associação dos Delegados da Polícia Civil do Rio, Rafael Barcia, vê como positiva a intervenção pelo fato de que uma decisão foi tomada em meio à crise. Mas ele ressalta a necessidade de se pensar em mudar o modelo de policiamento no Estado, focado na presença ostensiva, e não nas ações de inteligência.

O governador Luiz Fernando Pezão reconheceu que faltou planejamento do Estado para a segurança do Carnaval, quando foram registrados crimes violentos. Já o então secretário de Segurança, Roberto Sá, que entregou o cargo após a intervenção, disse que o gargalo ocorreu pela falta de veículos da polícia. A diferença nos discursos expôs a falta de coordenação das autoridades locais e de estrutura das corporações.

Polícia aos 'cacos' é o teste de fogo da intervenção no Rio

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