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Bolsonaro tenta esconder passado estatizante com silêncio pró-mercado

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04/05/2018 – 11h09

Assim como Dilma Rousseff quando candidata, Bolsonaro assume a liderança das pesquisas eleitorais como grande enigma na economia

Um dos maiores desafios da eleição de 2010 era saber o que pensava exatamente Dilma Rousseff sobre economia. Se, de um lado, ela mostrava-se crítica à ala pró-mercado do governo Lula, encabeçada por Antonio Palocci e Henrique Meirelles, do outro, sinalizava que manteria a política econômica de seu antecessor, sem descer aos detalhes. Eleita, botou para funcionar sua nova matriz econômica e deixou o Planalto, após sofrer impeachment, como responsável por uma das mais graves recessões de nossa história.

Ironicamente, dois anos após Dilma deixar o Planalto, Jair Bolsonaro chega à liderança da corrida eleitoral deste ano vivendo situação semelhante. Egresso da carreira militar, lutou contra todos os pontos relevantes do Plano Real, mas, às vésperas das eleições, deste ano passou a renegar seu passado. Alegou não entender de economia e colocou a seu lado o economista Paulo Guedes, um liberal egresso da Universidade de Chicago. Fora o objetivo de chegar ao Planalto, é difícil encontrar algo que os una.

Mesmo tendo sido reduzida, a campanha eleitoral é longa o suficiente para cobrar a exposição dos candidatos a temas incômodos. A propaganda de rua começará oficialmente no dia 16 de agosto. Para efeito de comparação, foi exatamente neste dia, quatro anos atrás, que o PSB decidiu que Marina Silva assumiria a candidatura no lugar de Eduardo Campos, morto três dias antes. E, diante de uma duríssima campanha de ataques, que levantou dúvidas sobre os rumos que ela daria ao país, Marina sequer chegou ao segundo turno, mesmo depois de uma ascensão meteórica.

À revista Época da última semana, Bolsonaro garantiu que já escolheu metade de seu ministério e que divulgará os nomes um mês antes das eleições. Seria um bom caminho para o eleitor, mas é difícil que seus marqueteiros apoiem a ideia. Em 2014, boa parte das propagandas de ataque do PT a Aécio Neves se baseavam em uma entrevista dada por Arminio Fraga, anunciado pelo tucano como seu futuro ministro da Fazenda. Quanto mais nomes Bolsonaro anunciar, mais exposto a ataques ele ficará.

Em um país com 13 milhões de desempregados, saindo de uma das mais profundas crises de sua história, a economia tende a assumir (novamente) papel central no debate eleitoral. O primeiro ponto sobre o qual os candidatos precisarão se pronunciar é se defendem uma reforma da Previdência , e qual seria ela. Verdade seja dita, nenhum dos candidatos que lideram as pesquisas veio a público até agora explicar de fato como pretendem sanar o rombo crescente provocado pelo atual regime de aposentadoria, que não condiz mais com a evolução da pirâmide etária da população. No entanto, ao contrário de seus concorrentes, que prometem um posicionamento, Bolsonaro arranjou um biombo para manter-se em silêncio: diz que nada entende de economia.

Quando se candidatou pela primeira vez, Dilma beneficiou-se de um duplo wishful thinking : os eleitores mais à esquerda acreditavam que ela daria uma guinada à esquerda na política econômica – o que ocorreu –, e os que viam com bons olhos o estilo Lula de manter uma condução econômica pró-mercado achavam que ela simplesmente repetiria seu antecessor – estes se frustraram. Hoje, parece se desenhar quadro semelhante entre bolsonaristas: os liberais acham que ele de fato abandonará sua formação estatista de décadas e entregará o comando da economia ao mercado, enquanto os militaristas acham que esse flerte deve durar até a eleição e que, depois, ele voltará a pensar no “Brasil grande”. Resta torcer para que desta vez a campanha deixe claro qual lado prevalecerá.

Paulo Celso Pereira, Diretor da Sucursal do jornal O Globo em Brasília

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