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Ala militar do governo pressiona Bolsonaro contra Olavo de Carvalho

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07/05/2019 – 08h14

O chefe do Executivo disse que “de acordo com a origem do problema, o melhor é ficar quieto”

A guerra aberta entre militares e o escritor Olavo de Carvalho voltou à tona com mais força do que antes. Depois de o ideólogo hostilizar nas redes sociais o ministro-chefe da Secretaria de Governo, Santos Cruz, oficiais das Forças Armadas iniciaram um contra-ataque dentro do governo e perifericamente. O general Eduardo Villas Boas, ex-comandante do Exército, saiu em defesa da categoria, acusando Olavo, via Twitter, de “acentuar as divergências nacionais” em um momento em que a sociedade necessita “recuperar a coesão e estruturar um projeto para o país”.

A mensagem foi interpretada na Esplanada dos Ministérios como um pedido ao presidente Jair Bolsonaro para que isole, de uma vez por todas, o “guru” das decisões dos ministérios, por causa da influência dele nas pastas da Educação e das Relações Exteriores.

O embate coloca o presidente entre a cruz e a espada. Olavo age como um ministro sem pasta, controlando a ala ideológica do governo por meio da influência conservadora propagada nas redes sociais. O pensamento dele ecoa entre o grupo mais fiel de Bolsonaro: os próprios filhos. Sobretudo o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ). O problema é que os ataques atingem diretamente a ala militar, que está incomodada. Na Esplanada e no próprio Palácio do Planalto, oficiais não negam o desconforto e pedem que Bolsonaro escolha mais enfaticamente o lado nesta guerra.

A posição do presidente, no entanto, não convenceu. Ontem, durante coletiva, Bolsonaro disse que, pela origem do problema, “o melhor é ficar quieto”. Para ele, há coisas mais importantes para discutir no Brasil. “Aqueles que, porventura, não têm tato político, estão pagando um preço junto à mídia. Mas não existe grupo de militares nem grupo de Olavos entre nós. É tudo um time só”, sustentou. À noite, continuou sem tomar partido. Em nota lida pelo porta-voz da Presidência da República, Otávio Rêgo Barros, o chefe do Executivo federal ponderou que “declarações individuais publicadas nas mais diversas mídias são de exclusiva responsabilidade daqueles que as emitem”. “Aliás, (ele) vem se posicionando dessa maneira há algum tempo”, finalizou o porta-voz.

Da parte que se entende da frase de Bolsonaro dita na coletiva, há uma avaliação pouco fiel à realidade na Esplanada, pois o incômodo entre militares e olavistas é cada vez maior. Não há, ainda, um movimento de dissidência e debandada entre os integrantes das Forças Armadas no governo. Os mais incomodados com o embate, porém, afirmam que não são apegados a cargos e alertam que o presidente deve definir quem ele quer na equipe.

Perifericamente, o coro é reforçado por oficiais de fora do governo. O general da reserva Paulo Chagas, candidato a governador pelo Distrito Federal nas últimas eleições, também já foi alvo de Olavo e disse que o escritor e aqueles que o seguem estão atrapalhando o governo. “Equipe é algo que funciona todos juntos. Se há uma divisão, então o governo não tem uma equipe”, avaliou.

O risco de Bolsonaro não resolver o impasse é a perda do apoio dos militares. É um cenário que Chagas não acredita, mas ressaltou que o presidente precisa tomar uma decisão sobre quem ele quer ao lado antes que o desgaste se amplie. “Haverá um momento em que os militares vão chegar para o presidente e dizer que ele tem de escolher (um lado). ‘Quem o senhor quer que fique aqui para te ajudar? Nós, ou eles? Vai chegar um momento em que estamos atrapalhando, e ninguém quer’. Se quiser manter essa equipe de olavetes, o presidente tem de expressar uma diretriz”, analisou. A leitura, ponderou o general, é disseminada. “Se não é uma unanimidade nas Forças Armadas, beira isso”, advertiu.

Contra-ataque

O contra-ataque dos militares parte da alta cúpula. As críticas de Villas Boas não são à toa. Como assessor especial do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência, o recado dele tem dedo do titular da pasta, Augusto Heleno, tido como o chefe dos oficiais no governo. “A partir do seu vazio existencial, (Olavo) derrama seus ataques aos militares e às FFAA (Forças Armadas), demonstrando total falta de princípios básicos de educação, de respeito e um mínimo de humildade e modéstia”, declarou o ex-comandante do Exército. Ele o definiu, ainda, como “verdadeiro Trotski (líder comunista) de direita”. “Não compreende que, substituindo uma ideologia pela outra, não contribui para a elaboração de uma base de pensamentos que promova soluções concretas para os problemas brasileiros”, acrescentou.

O tuíte de Villas Boas mostra que o próprio Heleno está incomodado com Olavo, interpretam oficiais. No entanto, a postura de isenção do chefe do GSI tem irritado parte dos militares. “Acho difícil que isso tenha ocorrido. Generais como eles não precisam de porta-vozes”, disse um oficial do Exército. O fato, no entanto, é que os ataques de Olavo criaram uma unidade nas Forças Armadas.

A guerra tomou corpo depois que Olavo publicou uma crítica a Santos Cruz. Há um mês, o general comentou, em entrevista a uma rádio, sobre a necessidade de “disciplinar” as mídias sociais. Em uma resposta ao subordinado, Bolsonaro foi direto e disse que, no governo, a “chama da democracia” será mantida. “Sem qualquer regulação da mídia, aí incluindo as sociais”, declarou. Olavo foi agressivo. “Controlar a internet, Santos Cruz? Controlar a sua boca, seu merda.”

Mourão critica

O vice-presidente Hamilton Mourão reagiu aos ataques do escritor Olavo de Carvalho ao general Carlos Alberto dos Santos Cruz. Para ele, as críticas são “totalmente sem nexo” e ignorá-las “será melhor para todo mundo”. Mourão deu as declarações ao chegar, ontem, ao Palácio do Planalto. Mais cedo, ele foi chamado de “um amigo” pelo presidente Jair Bolsonaro, durante a comemoração dos 130 anos do Colégio Militar, no Rio. O general Augusto Heleno, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, foi classificado pelo presidente como “conselheiro”.

Congresso manda recados

Discussão entre militares e o escritor Olavo de Carvalho repercutiu no Congresso, que promete mandar recados. Deputados e senadores se dividem entre alfinetar olavistas e militares, num confronto que, no balanço geral, implica perda do capital político do presidente Jair Bolsonaro. Para um governo com uma articulação política tão criticada no parlamento, as mensagens pressionam o chefe do Palácio do Planalto a resolver o impasse num momento de tensionamento com a discussão da reforma da Previdência na Comissão Especial da Câmara.

Os primeiros recados começaram a ser dados ontem. O deputado Marco Feliciano (Podemos-SP), vice-líder do governo no Congresso, acusou o ministro-chefe da Secretaria de Governo, Santos Cruz, de ser “líder de uma facção”, que teria se instalado no governo para descaracterizar pautas defendidas por Bolsonaro durante as eleições. “Alguns que ocupam cadeiras no Planalto se uniram ao vice-presidente (Hamilton) Mourão para tentar tutelar o presidente”, declarou, em nota.

O parlamentar é ligado à bancada evangélica, uma das frentes temáticas que apoiam Bolsonaro desde o segundo turno das eleições. Por sinal, Feliciano apresentou na Câmara pedido de impeachment contra Mourão. O deputado desfruta do prestígio de ser considerado um dos principais interlocutores políticos do presidente. Ou seja, a mensagem dele tem representatividade dentro da ala conservadora ligada ao escritor Olavo de Carvalho.

A crítica de Feliciano, no entanto, não passou batida. De forma velada, sem fazer menção a nomes, o deputado Fausto Pinato (PP-SP), vice-líder do bloco vencedor das eleições na Câmara, o classificou, em nota, como irresponsável. “Estou envergonhado, como cidadão e deputado, de ver tanta irresponsabilidade dita por alguns colegas que se dizem cristãos e que, de forma irresponsável e com espírito de divisão, tentam denegrir a imagem de um homem honrado, de reputação ilibada. General herói de guerra, de espírito patriota e moderador, que muito tem colaborado com o governo Bolsonaro”, ressaltou.

“Puxa-saco”

O vice-líder do governo no Congresso ainda foi chamado por Pinato de “puxa-saco e bajulador” de “guerrilheiros de redes sociais”, em crítica a Olavo e seguidores. “Fica aqui meu repúdio por tamanha irresponsabilidade dessas pessoas que não pensam no Brasil e, sim, em massagear o ego próprio de forma delinquente e irresponsável, colocando em risco todo o projeto de direta no país”, disparou. A crítica do pepista tem respaldo de outras lideranças no Congresso, que avaliam Santos Cruz como um articulador equilibrado do Planalto. “Se Santos Cruz e os militares saírem do governo, acabou”, analisou um líder.

Se a guerra interna do governo permanecer, obrigará o parlamento a encaminhar uma agenda própria, alerta o líder do Podemos na Câmara, José Nelto (GO). “O governo está se especializando em viver em crise e não em combater a crise econômica. É perigoso perder a confiança, pois dificilmente ela se restabelece. A partir do momento em que isso vai avançando, o Congresso ocupa o espaço de quem representa a sociedade”, advertiu. (Correio Braziliense)

O general Santos Cruz foi alvo do guru bolsonarista, inclusive com xingamentos, por sugerir

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