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“Presidente não precisa de palácio, jatinho ou cartão corporativo”

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27/07/2018 – 18h43

João Amoêdo diz que o Brasil não aguenta mais conviver com as práticas tradicionais da política

O Novo é o caçula entre os 35 partidos do País, mas quer dar o exemplo para os mais velhos. Deseja renovar os métodos de fazer política. Uma das lições dessa nova postura é não fazer parte das barganhas por alianças, que geralmente levam ao fisiologismo. Mesmo que, para isso, fique relegado a ter apenas 7 segundos na propaganda eleitoral no rádio e televisão. Eleitos os políticos de seus quadros, o Partido Novo quer que eles se tornem modelos de austeridade, cortando despesas com assessores e mordomias. O receituário vale para aspirantes a vereador, deputado, governador e sobretudo para o candidato a presidente da legenda, o administrador de empresas João Amoêdo: “Vou reduzir os atuais 29 ministérios para no máximo 10 ou 12. O futuro presidente não precisa morar em palácios, ter cartão corporativo, andar de jatinho para cima e para baixo”, disse Amoêdo em sabatina realizada pela revista ISTOÉ na última segunda-feira 23.

Aos 55 anos, ele se diz liberal na economia e prega um Estado menor. Deseja, ainda, o fim dos subsídios para os empresários, defendendo inclusive o corte de financiamentos com juros menores do BNDES. “Empresa tem que buscar recursos no mercado”.Atualmente, o partido já dispensa o uso de recursos públicos na campanha, cerca de R$ 1 milhão que o fundo eleitoral lhe reserva. O partido utiliza apenas o dinheiro que arrecadar junto aos apoiadores e 21 mil filiados (já coletou R$ 280 mil em vaquinhas eletrônicas). O Novo se recusa a lançar mão também dos recursos que recebe do fundo partidário. Desde 2015, quando a legenda foi oficializada, já recebeu R$ 4 milhões, mas o dinheiro está depositado intacto no BB, pronto para ser devolvido aos cofres da União. “Não é admissível termos recursos públicos para financiar os partidos, quando o governo diz não ter dinheiro para financiar a Saúde e Educação”, resume Amoêdo.

Se não alcançar o segundo turno das eleições, Amoêdo inclina-se a apoiar o tucano Geraldo Alckmin. Numa segunda hipótese, quem sabe até, o candidato do PSL, Jair Bolsonaro. Uma coisa é certa: para ele, esquerda de volta nem pensar.

Nos últimos dias, o senhor tem sido um crítico mordaz das alianças feitas pelo candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, com o Centrão. O senhor acha possível se eleger e governar sem alianças?

O nosso problema hoje é fazer a mudança, fazer a renovação necessária na política. Realmente me incomodou muito essa aliança feita pelo Alckmin. Quando a gente começou o Novo, em 2010, fomos movidos pelo desejo de renovação, indignados com a qualidade da política, com o desejo de trazer novas lideranças para o mundo político. E quando a gente vê um dos principais candidatos se aliando com ex-mensaleiros, pessoas que foram presas, trazendo de volta a idéia do imposto sindical, só por conta de 3 minutos a mais no tempo de televisão, é de indignar. Hoje, 60% das pessoas falam que não sabem em que vão votar, ou vão votar em branco ou nulo, porque a nossa política, apesar da Lava Jato, continua insistindo nas mesmas práticas. É isso que o brasileiro não agüenta mais.

O Novo só tem 7 segundos de tempo na rádio e televisão e não pode participar de debates na TV por não ter deputados federais. O que o senhor pretende falar em tão pouco tempo?

Isso mostra como o sistema político é feito para privilegiar quem está no poder. O fundo partidário, fundo eleitoral, tempo na TV, são concentrados nos partidos que estão aí e um novo partido não tem a oportunidade de ocupar esses espaços, a não ser que faça alianças com outros partidos para trazer mais tempo de TV, como a gente viu que outros partidos estão fazendo. No nosso tempo de televisão, a minha idéia é dizer: se depender do Novo, esta será a última vez que você vai ver um programa de horário gratuito de TV.

Este ano haverá uma mudança grande nos financiamentos de campanhas. Não haverá mais o financiamento empresarial. Qual é a posição do Novo sobre isso?

A princípio nós somos totalmente contrários ao financiamento público. Entendemos que o financiamento aos partidos deveria vir dos apoiadores e de seus filiados. Não é certo tirar dinheiro da Saúde e da Educação para financiar partidos. Esse dinheiro deve vir de forma voluntária. Em 2016, quando fizemos as primeiras campanhas, já fizemos usando as mídias sociais e sola de sapato. Este ano estamos usando as vaquinhas virtuais (crowdfunding) e eu estou liderando essa arrecadação. Já recebemos R$ 280 mil em doações.

E o dinheiro que o Novo recebe do fundo partidário?

A gente recebe cerca de R$ 100 mil por mês, desde setembro de 2015, quando o partido foi registrado, o que dá mais de R$ 4 milhões, que estão integralmente depositados no Banco do Brasil. Nós já consultamos o TSE e ainda não tivemos uma resposta de como devolver esse dinheiro. Não vamos usar nenhum tostão.

Com a redução do teto dos gastos, o próximo presidente terá grandes problemas com o Orçamento e deve faltar dinheiro para as áreas prioritárias, como Saúde e Educação. Como resolver os problemas emergenciais do País?

No passado, os ajustes sempre foram feitos com o aumento da carga tributária. O Estado está gigantesco, ineficiente e ninguém agüenta mais pagar mais impostos. A gente já trabalha 153 dias por ano só para pagar imposto. Já pagamos mais de R$ 1,2 trilhão em impostos este ano. Se dividirmos por 200 milhões de brasileiros, teremos uma média de R$ 6 mil de impostos pagos por cada brasileiro. E isso na metade do ano. Então, o que a gente tem de fazer? Cortar as despesas.

De que forma?

Tem um estudo do Banco Mundial que mostra que dá para se fazer uma economia de quase 8% do PIB, algo como R$ 400 bilhões. Primeiro, não tem como escapar: reforma da Previdência, que no ano passado deixou um déficit de R$ 270 bilhões e a gente tem que fazer a reforma da previdenciária. A gente tem que cortar uma série de benefícios dados às empresas, como desonerações feitas no passado e que hoje representam quase 4% do PIB. Não se mediu o tamanho desses benefícios e não se viu a eficiência desses programas. Temos que rever isso. E temos uma elite do funcionalismo público que recebe valores muito acima dos ganhos da iniciativa privada. E temos um Congresso que custa R$ 10,5 bilhões por ano. Há espaço para a gente reduzir despesas.

Qual é a sua visão sobre as privatizações, como da Eletrobrás, Petrobrás e a parceria da Boeing com a Embraer?

O governo não deveria ser gestor de nenhuma empresa e nem mesmo acionista. Por dois motivos principais. Primeiro, porque acaba criando um ambiente propício para a corrupção. O fato do governo ter mais poder, indicar enorme quantidade de diretores, presidentes de empresas, a gente já viu o que aconteceu com esse processo. Além disso, acaba resultando em gestão ineficiente. A gente viu a Vale do Rio Doce que aumentou bastante o faturamento. Só com o que ela veio a pagar depois em impostos já compensou.

O senhor tem nomes para eventual ministério?

Eu acredito muito em equipe. Parto do pressuposto que não se faz nada sozinho. Eu gostaria de trabalhar com algo em torno de 10 a 12 ministérios, para ser funcional, com uma agenda única, com todo mundo comprometido com o mesmo projeto. Hoje, a gente tem um pequeno núcleo trabalhando pelo Brasil e uma grande maioria trabalhando em nacos de poder, vendo apenas seus interesses pessoais. Mas no Novo temos o Gustavo Franco, que está muito próximo da gente, e que seria um bom nome para o Ministério da Fazenda.

O senhor fez críticas às desonerações. Acha que elas têm que ser revogadas e ac
abar com o Bolsa-Empresário, com o fim dos subsídios para as empresas?

Não tem que ter incentivo para empresário, porque acaba criando balcão de negócios. As desonerações têm que ser desfeitas. Temos que trazer a livre concorrência. Todas essas desonerações acabam concentrando o mercado e o consumidor paga duas vezes a conta. Primeiro paga como cidadão, por ter que pagar uma carga tributária maior e segundo porque acaba tendo concentração de empresas e o consumidor paga mais por não ter mais opções no mercado.

Então devemos acabar com o BNDES?

Não. Ele pode ser um órgão de projetos, para planejar a infraestrutura, mas ele não precisa ser um banco, para fazer empréstimos. Ele pode ser apenas um órgão técnico. Não precisa financiar obras em Cuba. Foi dado a ele um caráter ideológico para a manutenção do poder. Ele dava dinheiro para a JBS, que depois financiava os políticos com caixa 2 e os políticos se perpetuavam no poder. As empresas têm o mercado de capitais para buscar recursos.

O que o senhor acha do casamento gay, da redução da maioridade penal e da liberalização das drogas?

Eu sou a favor da redução da maioridade penal para 16 anos. Sou a favor da união homo-afetiva e no momento sou contra a descriminalização das drogas. Entendo que o Brasil ainda tem uma luta muito grande contra a violência. O Brasil hoje é o nono País no ranking de mortes por 100 mil habitantes e eu não traria essa variável para o Brasil agora.

Houve um episódio rumoroso em São Paulo, que foi aquela interação de uma criança com um artista nu num museu. Na ocasião, o senhor se posicionou de maneira dúbia. Qual sua posição?

Sou contra uma criança manusear um adulto nu. É inadmissível. Não devemos censurar, mas o que deve haver é uma ressalva na entrada que é proibido para crianças. Temos que separar liberdade de expressão de responsabilidade. Aquilo não é arte. Não faz sentido permitir que crianças possam ir a esse tipo de exposição.

Como o senhor pretende se comportar no segundo turno, no caso de não conseguir chegar lá?

Primeiro vamos trabalhar para chegar lá. Se acontecer algo diferente, vamos fazer mais ou menos que fizemos em 2014. Acabamos por apoiar o Aécio Neves, mesmo sabendo que o PSDB não representava nossas ideias, mas entendendo que ele tinha uma equipe melhor do que a da Dilma.

Tem algum candidato que o senhor não apoiaria?

Não apoiaremos alguém que tenha um víeis diferente do que temos de percepção de mundo que são os partidos de esquerda.

Então, se Alckmin ou Bolsonaro forem para o segundo turno contra alguém de esquerda, o senhor se alinhará a um dos dois, certo?

É possível, mas antes precisamos saber quais são as ideias. E não é só isso. Não interessa que o candidato diz, mas o que ele tem feito nos últimos tempos. Ele tem coerência? Isso é importante para uma avaliação nossa, de ver o que o candidato tem feito, não só o que tem falado. Se não a gente vai ser enganado novamente.(IstoÉ)

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