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Mourão não é útil e é desagradável, diz ex-estrategista de Trump

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06/02/2019 – 14h19

Para Steve Bannon, investigação contra Flavio Bolsonaro é ‘parte da guerra do marxismo cultural’

Formulador da retórica nacionalista que elegeu Donald Trump e estrategista-chefe do presidente nos primeiros oito meses na Casa Branca, o americano Steve Bannon tem voltado suas atenções para fora dos EUA, em particular ao Brasil. Na semana passada, apontou o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) representante de seu O Movimento, uma rede de partidos e políticos que pregam ideais de direita radical, populistas e nacionalistas. O filho do presidente Jair Bolsonaro (PSL) e o próprio capitão, como Bannon o chama, são extraordinários, disse Bannon em entrevista à Folha de S. Paulo.

Mas o vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) é reprovado pelo estrategista. “Ele é desagradável, pisa fora da sua linha”, criticou. “Até onde sei, o presidente Bolsonaro não lhe atribuiu responsabilidades e parece que foi uma decisão sábia.”

A opinião de Bannon é compartilhada por ala do governo ligada aos filhos do presidente. O primogênito, o senador Flavio Bolsonaro (PSL-RJ), é defendido pelo americano. As investigações de corrupção que o envolvem são parte da guerra do marxismo cultural contra a família no poder, afirmou.

Para o controverso estrategista, acusado de ligação com grupos racistas em seu país, será muito difícil Trump se reeleger caso não consiga construir o muro nos Estados Unidos na fronteira com o México.

Quais suas expectativas com Eduardo Bolsonaro? Quais são as prioridades para O Movimento no Brasil, na América do Sul?

Eduardo veio aos EUA em dezembro e tive a sorte de recebê-lo. Em Washington, havia líderes políticos, agentes de inteligência e segurança nacional. Na noite seguinte, em Nova York, foi bem diferente, gente das finanças. Nunca vi um político com esse potencial para lidar com públicos diferentes, em inglês.

A afiliação a O Movimento visa atingir outros conservadores populistas nacionalistas em países no continente e reforçar aspectos-chave, trazer o poder das elites globais de volta ao homem comum, à pessoa comum. Não há ninguém melhor que Eduardo para isso.

Em relação ao Brasil, a associação de Eduardo Bolsonaro com o Movimento pode influenciar de que forma na sua atuação no Congresso e no governo de seu pai?

Como na Itália, na Hungria, ou mesmo com Trump, a ideia é expor as pessoas ao que eles estão fazendo e também conseguir agregar apoiadores, expandir nossas ideias, reunir pessoas. Colocar gente influente das finanças, pessoas interessadas em investir, agentes de start-ups, ações públicas e privadas em companhias brasileiras. É construir relações e intercambiar ideias.

Como pessoas comuns e empresários podem se engajar no Movimento? O sr. aceita doações?

Agora somos uma rede de partidos políticos e líderes. Não queremos competir com partidos políticos. Falamos às pessoas para se afiliarem aos partidos em seus países e trazer informações de volta ao Movimento.

O que pretendemos fazer são workshops, conferências, encontros. Em dezembro, Eduardo participou da Cúpula Conservadora das Américas, no Sul do Brasil [Foz do Iguaçu (PR)]. Vamos começar a fazer isso no Movimento. O mesmo estamos fazendo na Europa, reunindo pessoas na Hungria, Itália, França e preparando para as eleições.

Poderia definir populismo? No Brasil, muitas vezes o termo tem uma conotação pejorativa.

É um entendimento errado do establishment global. Populismo significa tomar decisão o mais perto das pessoas possível e com a influência das pessoas. Fazer políticas sociais, econômicas ou de segurança nacional, mas sem atender aos interesses da elite.

Nos EUA, na última década, as elites cuidaram de si mesmas às custas das classes trabalhadoras e médias. Populismo é basicamente garantir que a classe média e a classe trabalhadora terão um lugar à mesa.

Temos uma situação globalmente que eu chamo de “real-feelism” [sentimento de vida real]. É muito difícil comprar uma casa, ter ações. Os empregos são sempre temporários, não há pensões, não há benefícios.

O governo Bolsonaro tem como ministro da Economia um egresso da Universidade de Chicago, muito consistente [Paulo Guedes]. O Brasil tem tremendos recursos, tremendo capital humano, só precisa ser bem gerido, por um populista que acredite em soberania. O capitão Bolsonaro e Eduardo são os líderes perfeitos para o momento.

O sr. recebeu Olavo de Carvalho para jantar algumas semanas atrás. Quais foram as suas impressões?

Eu o acompanhava por anos e ele vive na minha cidade, Richmond, Virgínia. Quando me contaram, pensei, é impossível! Não pode ser! Fui à casa dele, tem uma biblioteca gigante, onde dá aulas. Foi uma visita incrível.

No dia seguinte, ele iria ao Departamento de Estado americano e eu disse que queria recebê-lo para jantar na minha casa, com gente variada, da mídia, das finanças, da política. Ele falou de todas as grandes ideias, abordou o marxismo cultural, que está destruindo a política sul-americana. Fez de forma formidável.

O que estou tentando fazer agora é agendar, se o capitão Bolsonaro visitar Washington, uma exibição do documentário sobre ele [“O Jardim das Aflições”]. Olavo é um herói, até mesmo global, da direita. Um autodidata, com entendimento profundo do pensamento conservador, populista, nacionalista.

Olavo indicou o chanceler Ernesto Araújo. Seu perfil é diferente do tradicional no Itamaraty, ele fala muito de Deus. Como avalia sua condução?

Tento acompanhar o máximo possível, mas eu só falo inglês. Vejo que ele é muito alinhado ao pensamento do capitão Bolsonaro. Bolsonaro dá importância aos valores cristãos ocidentais, bases próximas aos princípios liberais de autodeterminação. Araújo está alinhado. Às vezes parece que o vice-presidente não está.

A escolha do vice-presidente foi ruim?

Disse isso ao pessoal do capitão Bolsonaro. Não é muito útil. Pela minha experiência com Trump, quando você chega [ao poder], tem que ser o mais unificado possível. Como se pronuncia? ‘Mouraro’? Ele é desagradável, pisa fora da sua linha. Bolsonaro vai fazer uma grande diferença no Brasil e devolver o país ao palco mundial, onde deve estar. Ele fala sobre Japão, Coreia, Taiwan, dá destaque à China. Está aberto aos investimentos chineses, sem deixá-los serem donos do Brasil.

Como um observador de fora, me parece que o vice-presidente Mourão gosta de falar muito sobre política externa. Mas, até onde sei, o presidente Bolsonaro não lhe atribuiu responsabilidades e parece que foi uma decisão sábia.

Acho que a visão de Washington é que o general Mourão não é um ator. Meu palpite é que chineses e europeus estão entendendo isso também. A boa notícia é que a equipe do presidente Bolsonaro está começando de forma poderosa.

O que, na sua opinião, Brasil, Estados Unidos e aliados devem fazer em relação à Venezuela?

O Brasil tem problemas na economia e Bolsonaro vai atacá-los de forma bem diferente do socialismo do passado. Você vê a tragédia na Venezuela. De forma esperta, o presidente Bolsonaro e Eduardo estão preparados para ajudar, mas não querem ter uma responsabilidade que o Brasil não deve ter.

Não somos intervencionistas. Em outras palavras, não achamos que seja papel dos EUA rodar o mundo se metendo na vida das pessoas. Tentamos impingir os ideais cristãos, democráticos, ocidentais nas sociedades. Não tentamos forçar eleições democráticas. Quando sociedades civis estiverem prontas, estarão prontas.

A Venezuela é uma tragédia de proporções bíblicas. Com seus recursos do petróleo, não há motivo para isso. Claramente é o modelo cubano, que não funciona.

Na América do Sul, demandará gente esperta como o capitão Bolsonaro e o presidente da Colômbia para trabalhar com os EUA e outros para não haver um colapso total da sociedade venezuelana.

Há investigações de corrupção envolvendo outro filho de Bolsonaro, o senador Flavio Bolsonaro (PSL-RJ). Essa situação compromete o discurso de ética do presidente?

Vejo isso no Brasil como vi com Trump. Eles vêm atrás de você pelas menores coisas. O Capitão Bolsonaro e Eduardo são líderes dinâmicos no palco mundial. Por isso eles são alvos. A luta deles é contra o marxismo cultural que restou. O socialismo econômico faliu claramente.

Faliu no Brasil, na Venezuela, em Cuba, é um modelo falido. Mas há ainda um marxismo cultural muito poderoso. Eles vão tentar atacar e destruir. Capitão Bolsonaro e Eduardo e a família ficarão sob intensa pressão.

Quando Eduardo me visitou [na campanha], o único conselho que dei foi, por favor, cuide do seu pai. Estava preocupado com uma tentativa de assassinato. A razão eram os vídeos da campanha, em aeroportos, com multidões.

Sei pelo Trump que isso pode ser muito perigoso. Disse ‘Vocês parecem não ter muita segurança, mas só é preciso um cara mau’. O capitão Bolsonaro estará sob intensa, intensa pressão pelo marxismo cultural.

O caso envolvendo Flavio prejudica a imagem de Bolsonaro?

Não, não acho. Acho que tentam criar escândalos. Disse a eles que precisam estar preparados, porque serão atacados. Acho que as pessoas esperam ótimas coisas do Brasil e da família Bolsonaro.

A reeleição de Trump depende da construção do muro?

Sim, disse a ele. Se não construir o muro, será muito, muito difícil se reeleger. De todas as promessas, essa foi a mais impactante, de construir o muro e a nossa soberania. Cada voto fará diferença, ele não pode perder nenhum. Se não construir o muro, vai afetar o espírito de parte significativa de sua base.

O sr. vai ajudar Trump na próxima campanha?

Não. Estou trabalhando no Movimento, trabalho com grupos que o apoiam, sou um apoiador. Mas não me vejo mais em campanha e jamais voltaria à Casa Branca.

Eduardo Bolsonaro, filho de Jair Bolsonaro, durante seu encontro com Steve Bannon

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