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Ministro da Justiça desafia autoridades a provarem que ele está errado

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01/11/2017 – 07h13

Torquato Jardim diz que Rio de Janeiro está voltando à Tropa de Elite 1 e 2′

BRASÍLIA. O ministro da Justiça, Torquato Jardim, desafiou as autoridades fluminenses a provarem que ele está errado sobre as conexões de comandantes da PM do Rio e o crime organizado. Ele afirmou que, embora as investigações da inteligência federal não se voltem para condutas individuais ou batalhões específicos, os dados apontam a necessidade de apurar “toda uma linha de comando”. A tarefa, porém, é da Corregedoria da PM, que recebe as informações dos órgãos federais, segundo Torquato. Em entrevista a Renata Mariz, do jornal O Globo ele ainda rebateu a declaração de Luiz Fernando Pezão de que nunca conversou com o ministro sobre o tema, dizendo que tem “melhor memória” que o governador do Rio.

De onde vêm as informações que o senhor mencionou em entrevistas sobre a associação de comandantes da PM do Rio com o crime organizado?

Da própria história da instituição. Em algum momento, este ano, de uma única vez, foram presos 93 policiais de um batalhão em São Gonçalo. Alguns dias mais tarde, mais alguns. E qual foi a consequência disso? A polícia tem que revelar, tem que contar. (Tem) a questão de vazamento de informações. Havia uma operação (em conjunto com as forças federais) planejada num morro, sabia-se que todo sábado de manhã uma das figuras mais perigosas do Rio jogava bola com a gangue dele ali naquele momento. A turma chegou escondida, secreta, silenciosa. O sujeito naquele dia não foi jogar bola onde joga bola todo sábado. Para mim, é muito curioso que o Roberto Sá (secretário de Segurança) não tenha encontrado entre os oficias da ativa um comandante-geral da PM. E foi buscar o coronel Dias que já estava aposentado. Então são essas circunstâncias todas que causam essa dúvida. Lamento a repercussão e extensão que teve (as declarações feitas). Fiz uma crítica institucional pessoal. Mas se estou errado, que me provem.

Mas há investigações de órgãos federais sobre corrupção nas polícias do Rio?

Isso não cabe à autoridade federal. Isso é Corregedoria da própria Polícia Militar local. A inteligência federal atua na segurança do Rio de Janeiro, no conhecimento do narcotráfico e das suas conexões com outras instituições. Não existe investigação de cada batalhão. A inteligência busca responder por que há mais incidência de tal crime na área de tal batalhão e em outros batalhões têm menos crimes. Não é imputar uma acusação a uma instituição ou a uma personalidade dentro da instituição. Mas ter o dado concreto sobre por que tal grupo funciona mais à vontade na área deste batalhão. Isso é serviço de inteligência.

Quando falou em associação de policiais em postos de comando com o crime organizado, era apenas uma opinião do senhor ou existe dado oficial sobre isso?

Claro que existe. Existe um serviço de inteligência sobre tudo que eu falo. Todo serviço de inteligência é sigiloso. Você não pode dizer quem, quando, como.

A corrupção então chegou aos postos de comando?

Há toda uma linha de comando que precisa ser investigada, (que está) sendo analisada. Nós temos informação: R$ 10 milhões por semana na Rocinha com gato de energia elétrica, tv a cabo, controle da distribuição de gás e o narcotráfico. Em um espaço geográfico pequeno. Você tem um batalhão, uma UPP lá. Como aquilo tudo acontece sem conhecimento das autoridades? Como passa na informalidade? Em algum lugar, voltamos à Tropa de Elite 1 e 2. Em algum lugar alguma coisa está sendo autorizada informalmente.

Mas como esses policiais supostamente corruptos serão pegos?

Esse trabalho de individualização, personalização da conduta não é tarefa das unidades federais. Isso é trabalho da Corregedoria de polícia.

A Corregedoria do Rio tem independência para investigar?

Não sei, não tenho avaliação dessa natureza.

O governo federal repassa essas informações de inteligência para a Corregedoria?

Compartilha. Mas não faz investigação de pessoas. Isso tem que ficar bem claro.

Se houver um policial auxiliando um grupo criminoso que age em diversos estados, não seria competência federal?

Aí sim. No (caso do) seu exemplo, é competência federal.

Há casos como esse?

Não sei dizer. E se houvesse, não podia responder.

Parlamentares já articulam ouvir o senhor para apresentar nomes ou informações concretas do que disse?

Não tenho como apresentar dossiês de inteligência, ia quebrar toda a consistencialidade necessária às investigações. A definição de investigação de inteligência é a sua confidencialidade, senão vira coluna social.

Quando o senhor diz que há suspeitas entre comandantes, inclui o mais alto posto da PM?

Não, no último topo, não. É uma descrição genérica. Há vários níveis de comando na hierarquia militar.

O governador Luiz Fernando Pezão criticou sua fala como “desagregadora”. O senhor falou demais?

Não. Primeiro eu disse a minha opinião. Não vinculo o governo federal. Segundo, tudo que falei já conversei com as autoridades locais, em mais de uma reunião.

Pezão disse que nunca conversou sobre o assunto com o senhor.

Eu tenho melhor memória.

O secretário Roberto Sá, da Segurança Pública, afirmou ter ficado indignado com as declarações do senhor.

É natural que eles fiquem. Eles têm que ficar, têm suas razões para ficar. Como eu tenho minhas razões para ter as minhas opiniões. Então vamos sentar e acertar o passo. O chefe da Polícia Civil e depois o Secretário de Segurança, semanas atrás, disseram que podiam operar sem as Forças Armadas, que as Forças Armadas são um instrumento muito pesado. Eles tiveram a avaliação deles, não tiveram? Não falaram livremente? Eles revelaram a vontade do governador do Estado? Não sei. Eles revelaram uma avaliação oficial para dizer que bastava dar o dinheiro que eles faziam o resto? Eles nunca responderam isso. Estou fazendo minha avaliação também de forma informal. Não cabe ao governo federal emitir juízo sobre o governo estadual. Agora o agente governo federal, com a experiência que tem e com os fatos que conhece, não se sente intimidado a não fazer comentários.

A relação do Rio com o governo federal não pode azedar de vez e atrapalhar a operação conjunta de segurança?

A parceria é necessária, inequívoca. Não há solução alguma para o Rio de Janeiro fora de uma estreita parceria entre a União e o estado.

Por que o senhor considera mal contada a história do comandante de um batalhão no Méier assassinado semana passada?

Disseram que ele estava fardado, num carro descaracterizado. Ou seja, um veículo de operação secreta ou informal. Se fosse um assalto eventual de arrastão, haveria tanto tiro de calibre pesado? Se vai assaltar um carro para tirar a carteira de um motorista, você não usa tanto chumbo, tanta munição. Perguntei a quem de direito: ‘e aí, é realmente’? Vamos ver, quero ver.

Por que a secretaria insistiria na tese do assalto se fosse outro motivo, como acerto de contas com o tráfico?

Não sei. Essa é a interrogação que se tem que fazer ao governo do Rio. Num arrastão? Curioso. Quem faz arrastão é o meliante pequeno, não é o pesadão que vem armado. Aí vai atacar um carro do sujeito fardado?

Mas a farda não poderia explicar a grande quantidade de tiros, uma vez que policiais quando identificados em assalt
os costumam ser retaliados?

Então que venha a explicação, que a investigação da polícia local traga essa explicação.

Políticos do Rio querem que o senhor apresente nomes sobre a conexão entre deputados, crime organizado e a polícia que mencionou.

Não é questão de apontar nomes. Isso é secundário. No mapa eleitoral do Rio de Janeiro, você tem cerca de 840 zonas mais perigosas onde moram um milhão de cariocas. Pelos dados oficiais, você sabe quem são os mais bem votados. E isso está sendo estudado pelo TSE com a participação do Ministério da Justiça, do GSI, da Defesa, da Abin e da PF.

A boa votação faz desses candidatos suspeitos de envolvimento com crime?

É isso que está sendo investigado: por que há predominância de certos candidatos vinculados a quais instituições nas zonas de perigo. Há um estudo ainda em curso.

Ministro da Justiça desafia autoridades a provarem que ele está errado

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