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Doria garante que o PSDB vai mudar, será de centro e respeitará direita e esquerda

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22/01/2019 – 07h37

Em Davos, governador paulista diz que partido precisa estar sintonizado com a população, e não com seu passado

O governador João Doria quer transformar o PSDB em um partido “de centro, com posições claras, que terá relações respeitosas com a esquerda e com a direita”. É esse o partido para chamar de “seu”, como já fez ao tomar posse no governo de São Paulo.

Na avaliação de Doria, é preciso que o PSDB respeite seu passado, mas deixe de se submeter a ele para estar “sintonizado com a população”. Para presidir a legenda, ele trabalha na candidatura do deputado Bruno Araújo (PSDB-PE), ex-ministro de Cidades, que termina o mandato no dia 31 e poderia, assim, dedicar-se exclusivamente à tarefa.

Doria, que está em Davos para participar da edição de 2019 do encontro do Fórum Econômico Mundial, cujo braço latino-americano São Paulo recebeu no ano passado, quando ele era prefeito, deu uma entrevista de uma hora ao jornal Folha de S. Paulo . Tratou de seu projeto para fortalecer as polícias, de ampliar o ensino técnico no estado, de investimentos e privatizações —bandeiras da viagem. Também afirmou que tem como meta que São Paulo volte em 2020 a liderar o ranking do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, termômetro do ensino no país).

Acenou ao presidente Jair Bolsonaro, tomando o cuidado de dizer que apoia as medidas do governo que forem benéficas ao país. Relutante em avaliar as primeiras três semanas do mandato do presidente a quem aplaudiu no palanque, afirmou que defende que as investigações a respeito das movimentações financeiras atípicas na conta do primogênito de Bolsonaro, Flávio, e de assessores continuem.

O senhor já deu seu apoio ao deputado Rodrigo Maia [para a sucessão na Câmara]…E à reforma da Previdência também. Meu interesse é o Brasil, e eu sei a importância da reforma da Previdência para o país. Você vai ver nesses dias aqui [em Davos], como os investidores conscientes sabem da importância da reforma da Previdência. A reforma aprovada muda a história econômica do Brasil, abre as comportas para investimento estrangeiro no Brasil já neste ano, e isso vai se traduzir em emprego, renda e prosperidade de curto, médio e longo prazo.

O sr. se alinhou ao presidente Bolsonaro na campanha e tem dado apoio às propostas dele, sobretudo econômicas. Como avalia esse início e as questões que têm sido levantadas sobre os filhos?Não tenho me manifestado sobre o tema dos filhos. Em relação ao governo, posso reafirmar que todas as medidas que forem positivas para o Brasil no plano econômico e no plano social e mesmo no institucional terão o nosso apoio. Não precisa nem de contrapartida, cargo, vantagem, benefício. Com o projeto do Paulo Guedes [ministro da Economia] —e ele tem cérebro e montou um bom time—, a economia brasileira vai andar. E quando você tem bom desempenho econômico, você tem um bom desempenho social atrelado a ele.

O sr. falou, ao tomar posse, em “o meu PSDB”. O que vai acontecer com o partido?Vai mudar. E vai mudar sem desprezar o passado, sem estigmatizar ninguém, respeitando aqueles que foram próceres do PSDB, dentre os quais eu destaco desde o [André Franco] Montoro, passando pelo Mario Covas, e destacando Fernando Henrique Cardoso, José Serra, Geraldo Alckmin, entre outros. Cada um cumpriu seu papel bem. Mas a partir de agora o PSDB vai estar sintonizado com a população, e não mais com seu passado. Vai estar sintonizado com o presente do país para garantir o seu futuro como partido político. Para isso ele não precisa renegar o seu passado, mas ele vai mudar. E será um partido de posições centrais, de centro.

Não de centro-direita?Não. De centro. E terá relações respeitosas com a esquerda e com a direita, seja centro-direita, extrema direita, centro-esquerda, extrema esquerda. Um partido de diálogo mas com posições claras e bem definidas.

Quem vai ser o presidente do partido?Não tenho problema de falar sobre isso, se eu fosse um tucano das antigas eu iria dizer “veja bem, é cedo”, mas eu sou claro e objetivo. Nós estamos trabalhando para que o Bruno Araújo (PSDB-PE) possa ser eleito presidente nacional do PSDB. Ainda é deputado, mas termina seu mandato no dia 31, foi ministro de Estado, deputado federal, deputado estadual em Pernambuco. Ele vai ter tempo para se dedicar ao partido —entendo que ele não pode estar dividido entre o partido e a função executiva ou legislativa. E ele tem conhecimento, tem boa penetração no PSDB, é querido em todas as faixas e mantém um bom diálogo com os demais partidos.

O sr. disse recentemente que “se o bandido reagir, vai para o cemitério”, o que preocupa o meio jurídico. O sr. não tem receio de atiçar uma atitude ilegal em parte dos policiais?Não. Não tem nenhuma ilegalidade, pois há um protocolo a ser cumprido. Mas esse protocolo vai até o final. Quem tem de ter receio é o bandido, porque a partir de agora a ação da Polícia Civil e a Polícia Militar em São Paulo serão muito rigorosas. Não vai ter mais nenhuma situação que possa dar margem a quem quer que seja que possa haver negociação com facção criminosa. Em última instância, depois de imobilizado o bandido, receber voz de prisão, entre a vida de um policial e a de um bandido, a orientação do governador é que fiquemos com a vida dos policiais. Se ele reagir armado aos policiais que estão ali com ordem de prisão e mantiver essa reação, a orientação do governador é que ele seja abatido.

E investimento em inteligência?
Estamos fazendo, mas na Polícia Civil, e na polícia científica.

E em tecnologia, como o Detecta? Pode ser ampliado?
Pode e deve ser. Precisamos colocar mais câmeras na cidade. Nenhum criminoso gosta de ser filmado, porque ele pode ser preso assim. Por isso que quanto mais monitoramento colocarmos melhor, é um fator inibidor. São Paulo já tem os melhores índices de segurança do país, com 6,4 homicídios por 100 mil habitantes, e a média nacional nos estados é 30 por 100 mil.

A liberalização da posse de armas pode afetar esses índices negativamente?
À posse na residência eu sou favorável, desde que respeitados os critérios e a regulamentação.

O sr. defende como foi liberado ou como o ministro Sergio Moro defendia, com restrições?
Isso é relativo. Acho que ela foi aprovada razoavelmente. Agora, porte de arma é outra coisa, você precisa de um cuidado redobrado, você não pode ter, ainda que aprovado pela legislação, uma generalização. O porte de arma é algo que precisa ser tratado com muita atenção, porque da mesma maneira que ele pode proteger quem precisa ele pode desproteger alguém que possa ser vítima. Precisa ter um aprofundamento.

O sr. é contra ou a favor do porte?
Olha, não estou querendo ser tucano, mas é algo que precisa ser estudado. À posse, sou favorável.

O sr. governa um estado que tem no PCC seu pior problema de segurança. A liberalização da posse, com o aumento de armas no mercado, nas mãos de pessoas que não necessariamente a deixarão superprotegidas, não vai incentivar roubos e ajudar a municiar os criminosos?Não creio, o sistema de segurança no estado será muito fortalecido. No caso de São Paulo, não acho que aumente o risco.

O sr. é candidato natural ao Planalto. Não seria importante marcar sua posição, por exemplo, em relação ao filho do presidente [Flávio Bolsonaro], que tem procurado se esquivar de investigações, que não tem respondido sobre essas movimentações atípicas?Minha posição não é de fugir ao tema, é que as investigações prossigam. Não defendo que a investigação deixe de existir ou seja facilitada por serem filhos do presidente. Mas não vou fazer condenação prévia. Defendo que as investigações prossigam.

O sr. vai falar de concessões e privatizações aqui no Fórum?Nós não vamos utilizar dinheiro público, exceto nas PPPs [parcerias público-privadas]. Todo o programa de desestatização do estado de São Paulo será financiado pelo setor privado, como o programa de ferrovias.

O programa de ferrovias é estimado em quanto?
Ainda não temos, está sendo avaliado. É o Alexandre Baldy, secretário de Transportes Metropolitanos, mas ele foi ministro das Cidades [que está tocando]. São trens intercidades ligando a cidade de São Paulo ao Vale do Paraíba e à região metropolitana de Campinas, além do Ferroanel. Tem também a hidrovia Tietê-Paraná, que será inteiramente privatizada. Tem alguns setores correlatos à hidrovia que já estão em mãos privadas. Também 23 aeroportos regionais. Há ainda ferrovias não licitadas, o Porto de São Sebastião…

O sr. acha possível viabilizar tudo isso em quatro anos?
A maior parte, sim. Não quero dizer todas, porque algumas circunstâncias fogem do controle, sobretudo se a economia brasileira crescer. Além disso, há o estímulo que já demos ao presidente Bolsonaro para a privatização do Porto de Santos, e ele concordou, na audiência da semana retrasada.

Privatizações foram uma promessa durante a sua gestão na Prefeitura de SP que ainda não deslanchou. Por que não avançou? Não compromete a sua apresentação de privatizações aos investidores aqui?Não deslanchou, mas vai avançar. Porque não tinha história, nunca houve um programa de desestatização em nenhuma cidade brasileira. E uma das razões foi exatamente a indiferença no posicionamento político do ex-governador Márcio França, que dificultou as duas primeiras modelagens que estavam prontas, o Estádio do Pacaembu e o Ibirapuera, e demais parques depois de um périplo na Câmara Municipal, no Tribunal de Contas do Município. Foram liberados por eles. Agora, vamos facilitar, o que já estava acordado com o governador [Geraldo] Alckmin.

No vídeo sobre SP que o sr. apresentará a investidores, não se fala de educação, mas precisamos melhorar os índices e mostrar que há boa educação básica no estado e formação de mão de obra qualificada. O sr. vai tratar disso aqui?São Paulo tem as melhores qualificações de mão de obra para todos os setores, não só no ensino básico, médio e universitário, mas pelas escolas técnicas. Vamos ampliar. Essa é a meta do secretário Rossieli [Soares]. Em 2020, nosso objetivo é que São Paulo esteja liderando o Ideb, onde já foi líder, e depois perdeu a liderança. A meta dada a ele é que em 2020, queremos retomar a liderança.

Há secretários que foram ministros da gestão Temer que são “estrangeiros” em São Paulo. Eles vão precisar de um tempo para se aclimatar, para aprender?
Quem sabe, sabe. Tem equipe, ninguém faz nada sozinho.

Há planos de investimento em educação?
Sim, vamos investir em tecnologia.

E em formação de professores?Também. Fizemos na prefeitura e vamos fazer no âmbito do estado.

Algo específico para enfrentar problemas como o absenteísmo de professores e evasão no ensino médio? Meritocracia. Há protocolo para isso. Não pode faltar sistematicamente, tem de atingir os índices do Ideb. Não tivemos greve na prefeitura na minha gestão nem na do Bruno [Covas]. Bônus permitem salto para bons professores, que não faltam, que permitem saltos no Ideb. É isso que o Rossieli vai fazer. Cursos técnicos serão uma das prioridades. São qualificantes para o emprego. No último ano, alunos saem empregados. São quase 300 mil [292 mil, segundo o Instituto Paula Souza].

Vai fazer, avançar em reforma da Previdência no estado, como Bruno Covas fez na prefeitura?São Paulo já fez, em 2013, foi uma boa reforma. Onde ela poderá avançar, se avançar no plano federal: militares. Na idade da aposentadoria. Os policiais militares se aposentam muito cedo. Há policiais [que não estão mais na ativa] com muita qualidade. Eles estão na melhor idade, no melhor da sua capacidade e foram aposentados pela lei.

O sr. tem alguma ideia de trazer essas pessoas de volta?Como o sistema previdenciário em São Paulo está relativamente em ordem, isso não desprezível, mas não é prioridade para nós. Vamos esperar o plano federal.

O sr. tem reunido governadores em torno desse tema…Vejo com muito otimismo a reforma da Previdência [pelo Congresso Nacional]. A liderança dos governadores, de uma boa parte deles, é de liderar suas bancadas para votarem a favor da Previdência. Óbvio que não conhecemos toda a reforma elaborada pelo deputado Rogério Marinho, que foi muito competente na reforma trabalhista.

Governador João Dória, dividindo o palco de Davos o presidente Jair Bolsonaro

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