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Ueze Zahran: “O senhor tem redação própria?”

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28/12/2018 – 10h44

Diretor-presidente do Grupo Zahran deixou um grande legado para o Brasil

Desconfio ser o profissional com mais passagens pela TV Morena, a que mais me orgulha quando assumi a direção de jornalismo da emissora no Estado a convite de “seu Ueze Zahran”, como era conhecido o empresário desencarnado ontem em São Paulo, deixando um inegável legado ao Brasil, não apenas aos dois Mato Grossos, onde, além da Copagaz, empresa âncora do Grupo Zahran, implantou a Rede Mato-grossense de Televisão – TV Morena aqui, TV Centro América lá.

Nem bem completado o primeiro ano como assessor de imprensa da primeira administração do prefeito Braz Melo recebi um telefonema do colega jornalista Uilson Morales, que fazia consultoria ao empresário, já naquela época um dos mais poderosos do Centro-Oeste brasileiro. Ele estava à procura de alguém para substituir Maranhão Viegas no jornalismo da Morena e me pedia sugestão de nomes. Lembrei de Guilherme Filho, Ecilda Stefanello, Pio Lopez, entre outros. Já ao desligar fiz uma bravata: e tem o meu nome! Mesmo não acreditando que eu deixaria uma “teta” como a assessoria de um potencial candidato a governador, como era Braz Melo, à época, incluiu meu nome na listinha. Passados não mais que trinta minutos meu amigo Beija-Flor retorna a ligação pedindo para que mandasse meu currículo para a sede da holding do grupo Zahran em São Paulo. Outros trinta minutos e o convite para estar no dia seguinte em Campo Grande para uma conversa com Ueze Zahran. Como não punha fé naquela história ainda esnobei, dizendo que só poderia ir no dia subsequente.

Minha conversa com o chefão do grupo Zahran foi no escritório de seu genro Ghandi Jamil e a exigência para que assumisse o cargo mais cobiçado do jornalismo no estado não poderia ter sido mais prosaica: “o senhor tem redação própria?”. Quase caí da cadeira. Convite feito, e aceito, combinamos que o comunicado ao diretor geral da emissora, seu sobrinho Fábio Zahran, seria às 15h do dia seguinte. Disse a ele que iria direto, que já conhecia o caminho, pois já havia trabalhado na emissora em duas ocasiões. Ele discordou: “O senhor volta aqui e daqui iremos no meu carro”.

Fábio Zahran nos recebeu ainda no corredor. Era visível seu alívio quando me viu. A conversa em sua sala foi curta e grossa. Seu Ueze disse que estava ali para apresentar o novo diretor de jornalismo, ao que Fábio, fazendo-se de desentendido, sugeriu criar uma editoria política para mim, já que o ano era eleitoral e havia um candidato a governador (Ghandi Jamil) da casa. Dirigindo-se a mim, seu Ueze foi enfático: o senhor está assumindo a direção de jornalismo e a partir deste momento qualquer dúvida se dirija a mim ou ao dr. Caio (o outro genro, diretor geral da TV Centro América). Só aí comecei a entender que a partir daquele momento estaria como marisco entre o mar e o rochedo.

Conhecedor do papel do irmão mais novo de Ueze, Jorge Zahran, na TV Morena, nem bem assumi no cargo e fui até sua sala pedir a bênção, já que da primeira vez em que passei pela empresa fui por ele demitido por conta de uma encrenca com um dos intocáveis da casa, mas tudo por uma boa causa, a do bom jornalismo. E ele, bonachão e irônico, como sempre: “não te invejo, você agora está com a faca e o queijo na mão para fazer o que sempre sonhou”. “Jorjão”, como era carinhosamente chamado, continuava presidente da Federação das Indústrias do Estado e, como tal, antes de qualquer outra condição, uma de nossas grandes fontes de informação. O filho, Fábio, depois do esbregue do tio, fazia sempre questão de lembrar que a diferença entre mim e ele na empresa era a sua condição de herdeiro do grupo. Claro que eu entendia minha posição, tanto que, um ano e pouco depois, saí de fininho, quando senti que os ânimos no seio da família Zahran haviam asserenados.

Em minhas quatro passagens pela TV Morena jamais tive problemas com a maldita censura. Nesse período em que dirigi o departamento de jornalismo, sempre que chegava à emissora Ueze vinha direto à minha sala para saber como andavam as coisas. Um dia, apenas, perguntou como era minha relação com Leonildo Bachega, homem forte dos governos da época. Mas também não pediu nada. Nem precisava. Em outra ocasião me ligou pedindo para dar atenção especial a uma reportagem em que alguns dos familiares de sua esposa poderiam estar envolvidos. Quando disse que seria difícil, já que se tratava de encrenca fronteiriça das brabas ele apenas sorriu e disse que aguentaria o tranco.

Naquele ano de 1990 o genro de Ueze, Ghandi Jamil disputou – por puro capricho –, e perdeu, as eleições de governador para Pedro Pedrossian, já que o homem de Miranda ainda reinava absoluto como maior liderança política do Estado, sempre apoiado, inclusive, pelas famílias Jamil e Zahran.
Mesmo sendo dono de canais de emissoras de TV afiliadas à rede Globo, Ueze Zahran, para muitos tido como arrogante e vaidoso, jamais fez espalhafato com um de seus maiores feitos: um grande trabalho social por meio da Fundação que leva seu nome recolhendo e dando todo tipo de atendimento a mendigos que chegam de todos os cantos do Brasil à cidade de cidade de São Paulo.

Ueze Zahran: "O senhor tem redação própria?"

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