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As memórias do cárcere de Puccinelli e a delação que pode sacudir o estado

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13/11/2018 – 10h22

Preso desde julho, o ex-governadolr já perdeu a esperança de sair tão cedo da cadeia

Convidado a me retirar da portaria do Centro de Triagem de Campo Grande, onde está preso André Puccinelli, mas sem perder a esperança de algum contato, mesmo que através de um bilhetinho, como fez o deputado Paulo Siufi, fiquei por ali, disfarçando, até que me veio a ideia da velha tereza (corda de lençóis para facilitar fugas) que me fora apresentada pelo xerife Ezequias Freire no início de minha lida, como repórter policial. Em último caso recorreria ao drone do amigo, grande cinegrafista, Betinho Escalante, pelo menos para tentar conferir se é verdade tudo o que falam das condições desumanas dispensadas ao médico e ex-governador, a seu filho e demais companheiros de cárcere.

Uma vez introduzido (não me perguntem como consegui tal proeza), fiquei tentando achar a ala que levasse à cela famosa. Até aí tudo bem, já que havia memorizado o corredor por onde, tentando tapar o rosto, esgueirou-se não faz muito tempo o filho do então candidato Odilon de Oliveira em busca de apoio de Puccinelli na recém-finda eleição para o governo estadual. De repente, um grito, de alguém com um sotaque inconfundível – debochado, como sempre – chamando-me pelo nome. Não tive dúvida de que atingira meu objetivo.

Para quem estava acostumado a ver André Puccinelli em seu “uniforme” de governador – calça social cinza, camisa azul de manga longa e sapato de cromo alemão preto – deparar-se com ele naquele estado era, no mínimo, aterrorizante. Estava diante de alguém mais se parecendo com um mendigo: segurava uma bermuda pelo jeito herdada de algum “defunto” com o dobro de seu tamanho, uma camisa de interno que em nada se assemelha ao jaleco do médico que atende “de grátis” os colegas presidiários, e um par de havaianas com um pé faltando a parte do calcanhar. Cabelos desgrenhados, barba por fazer.

E o relato confirmando os horrores do ambiente em que está confinado desde 20 de julho, que dariam a Graciliano Ramos argumentos de sobra para completar a trilogia de suas “Memórias do Cárcere”: superlotação, banho num cano de água fria com hora marcada (o registro, por questões de segurança, fica do lado de fora); banho de sol, só num pequeno corredor; fedor insuportável, não só do “in loco” como do esgoto dos presídios adjacentes; convívio íntimo com colegas de alta periculosidade, inclusive policiais militares narcotraficantes e estupradores; drogas correndo solto, a ponto de os “velhos” terem hora para se posicionar de frente para as janelas enquanto a moçada participa da muvuca. Pior, a modernidade trouxe outro problema, já que a única TV para ele ver os jogos do Santos (o time do coração) era analógica e está fora do ar por falta de um conversor.

Para o sempre insone André Puccinelli, que tinha a mania de pular da cama de madrugada para aporrinhar secretários com ordens de serviço, agora, em vez de sono, só pesadelos, principalmente diante da pressão psicológica da família de um de seus comparsas, para que o dito cujo faça delação premiada. Maior que a desconfiança de Puccinelli de que tão cedo não sai da cadeia é a certeza de que logo, logo, caso aconteça, mesmo, a delação do amigo e colega de cela, terá a companhia de parceiros com currículos a altura do seu e que, pelo poder que têm, talvez consigam, pelo menos, alguma acomodação um pouco mais digna a um ex-governador.

André Puccinelli e o filho, a caminho da prisão

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