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A torre que fez Jaime Lerner repensar seu retorno a Dourados

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26/02/2019 -00h40

A realidade da especulação imoliliária afasta o sonho do crescimento horizontal proposto pelo mais respeitado urbanista do Brasil

O vice-governador Murilo Zauith até que tentou disfarçar, pois não queria estragar a surpresa que faria à prefeita Délia Razuk, numa deferência ao agora assessor especial dela, ex-prefeito José Elias Moreira, mas, terminado o regabofe à base de fortaia encomendada à dona Gema, na cantina O Quatrilho, lá estávamos, inconvenientes, como sempre. Zauith não sabia que Cícero Faria era ‘da casa’ e que como tal costumava bater ponto ali comigo e com o sempre inquieto empresário gráfico Jairo de Osti.

Ao deixar o reservado lateral, depois de uma indefectível selfie para a galeria dos mais ilustres frequentadores, passando a mão na barriga e, pasme! palitando os dentes! – sinal de que havia cometido o pecado da gula também com a famosa bisteca grelhada por Sinval Zagretti – Jaime Lerner não teve como evitar o impertinente interrogatório. Celulares à mão, fomos direto ao ponto. Ao óbvio: o tamanho de sua frustração pela bagunça que os sucessores de Zé Elias fizeram com o projeto por ele implantado na cidade na virada da década de 1970. Gentleman, como sempre, Zauith não conseguia esconder sua angústia, como que prevendo o final desastroso daquela improvisada entrevista.

Quando prefeito, limitado pela exiguidade orçamentária, Murilo Zauith resistiu à pressão do mesmo Zé Elias para contratar o ex-prefeito de Curitiba, ex-governador paranaense e urbanista de renome internacional, para uma revisão em seu futurístico projeto de planejamento urbano, cujos pontos mais polêmicos eram o estreitamento de ruas em alguns bairros, com a implantação de calçadões (não apenas por uma questão de economia, mas de segurança) e o gabarito (máximo de seis andares) para a construção de edifícios comerciais e residenciais. Afinal, numa cidade com tantas áreas ociosas, para especulação imobiliária, não se justificava o sempre questionável crescimento vertical, aí pesando, também – e principalmente – a questão da segurança. Agora, como vice-governador do estado e titular da supersecretaria de Infraestrutura, diante da situação calamitosa da administração Délia Razuk, Zauith deve ter entendido ser chegada a hora de promover uma profunda intervenção urbanística na cidade. Aproveitaria, assim, para colocar um ponto final na maledicência provinciana que alimenta o diz-que-diz de que estaria por trás de uma grande conspiração para derrubar a prefeita que ajudou eleger.

À espreita, com uns goles já descendo redondo, eis que Jairo de Osti resolve dar seus pitacos na entrevista. Mais na condição de admirador do vice-governador do que de ex-presidente da Associação Comercial, apontando na direção de um prédio de dez andares, próximo dali, com sacadas azuis lembrando as ondas do mar, recorreu ao bordão futebolístico de Galvão Bueno para sapecar: “Isto pode, ‘Arnaldo’? “.

Não era minha intenção provocar nenhuma saia justa, mas diante da provocação, antes que Lerner reagisse lembrei que, onda por onda, o prédio construído no imóvel onde funcionava a Rádio Clube de Dourados (por isso mesmo, “Sobre as ondas”) era bem mais alto. E, como impertinência pouca é bobagem, abri a galeria de fotos no celular e dei um zoom para que Lerner tivesse certeza do que estava vendo – a foto que ilustra este post (e que certamente inspirou o sonho e o texto), feita para, em vão, questionar a incorporadora responsável pelo audacioso projeto.

Constrangimento e estupefação. Nem bem terminou de contar e – para ter certeza – recontar os 34, isto mesmo, trinta e quatro! andares da torre que promete “engalanar” a entrada do Jaguapiru, Jaime Lerner pediu o número do celular de Zé Elias e, já entrando no carro, avisou que estava indo para o aeroporto, que nada mais tinha a fazer em Dourados. Não sem antes fazer blague com o prefeito que 40 anos atrás fez ele encaixar em sua agenda internacional (como o planejamento urbano de Paris, entre outros) o projeto que garantiria o crescimento horizontal e seguro da terra de seu Marcelino: “Pô, Zé Elias, você não quer que eu volte! “.

Totem da torre de 34 andares nos altos do Jaguapiru

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