03/05/2021 – 09h37
Fechamento da UPA, mesmo que por horas, mostra o caos da saúde pública em plena pandemia
Quem lê, assim, pela forma simplória como a prefeitura de Dourados trata a coisa, pode até imaginar que situação está dentro da normalidade, pelo menos pela ótica da irresponsabilidade do prefeito Alan Guedes e de seu vice, o tão festejado Dr. Guto (aliás, por onde andará o dito cujo?). Irresponsabilidade ou incompetência, tanto que Alan Guedes, em plena pandemia, não deu conta, ainda, de encontrar um médico para tocar este setor que é o calcanhar de Aquiles de sua administração que, pelo visto, vai pelos mesmos descaminhos da anterior, de sua amiguinha Délia Razuk.
Quem vê, assim, como vi hoje no Bom dia MS, da TV Morena, a não menos simplória forma de tratar uma situação tão grave, pode também imaginar que tudo não passa de tempestade em copo d’água, que isso é coisa da sempre combativa repórter da concorrência, a TV MS, agora vereadora Lia Nogueira. (Aliás, neste quesito, ponto para aquele que vai dando toda a pinta de ser o prefeito de fato, de Dourados, o colunista social Alfredo Barbara Neto, que trouxe para sua assessoria de imprensa um ex-apresentador [Ginez Cesar] do mesmo Bom dia, da mesma TV Morena, para que nessas horas possa pelo menos haver um contraponto aos insubordinados de sempre, que insistem e só ver o lado ruim das coisas).
Por coincidência, na manhã deste domingo fatídico para o sistema de saúde pública do município, dando uns bordejos ali pela Vila Industrial, tive, pela primeira vez, contato com um paciente de Covid, ainda em fase de restabelecimento. Marido de uma prima, seu João estava sentado debaixo de um manacá, certamente na esperança de alguma lufada do minuano. Arfando, diante de minha sugestão para que chamassem uma ambulância para a imediata internação,o pobre homem fazia gestos rápidos com os dois indicadores em sinal de desaprovação e sussurrando algo ao ouvido da esposa, que me disse de seu trauma pelos dias que ficou internado. Quer dizer, o medo de voltar para um hospital público é maior do que o medo da morte.
Diante daquela situação angustiante, nem prestei atenção nas explicações de minha prima, que repetiu algumas vezes a palavra UPA. UPA, que é a unidade de pronto atendimento localizada a aproximadamente mil metros dali. Uma dessas unidades de saúde construídas com recursos das famigeradas emendas parlamentares, cujos valores são solapados por antecipação, uma vez aprovados pelo Congresso Nacional, e que depois vão saindo pelo ralo durante a construção e, principalmente, quando entra em pleno funcionamento, por ser uma dessas inesgotáveis fontes de retornos, ops! Não à toa que sua administradora, a Fundação de Saúde, está quebrada, com um rombo de cerca de R$ 70 milhões e na alça de mira da CPI da Covid da Câmara Municipal.
Só no final do dia, com a vereadora Lia Nogueira desbancando o Faustão, ao vivo nas mídias sociais, denunciando o fechamento por algumas horas da UPA, é que liguei uma coisa à outra e compreendi o que minha prima estava tentando me dizer. Moral da história, que não poderia contar com a vizinha UPA e que levar o marido para o Hospital da Vida seria ainda pior. Sim, porque este era o destino de quem precisasse daquela unidade de saúde num belo domingo outonal, mas em plena pandemia.
Enquanto isso, mídias sociais, um gaiato quis saber, mas já deduzindo, por onde andaria Alan Guedes, já que apenas o vereador-médico Diogo Castilho apareceu na live de Lia Nogueira. Como era domingo, ele só poderia estar em companhia de seu guru Barbara numa das boas pizzarias da cidade. Claro que, pela descrença de uma solução, a gaiatice é sempre um jeito muito brasileiro de lidar com essas situações. Mas neste caso, quando se fala em pizzaria, pode-se ter atirado no que viu e acertado no que não viu, uma alusão ao indesejado final da CPI da Covid da Câmara Municipal que, espera-se, não acabe em pizza.

